Especialistas rebatem secretário em Mogi das Cruzes
segunda-feira, 8 de agosto de 2011Os argumentos usados pelo secretário de Estado dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, sobre a suposta inviabilidade de expansão dos trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) até César de Souza, não convencem os mogianos. O chefe da pasta estadual alegou que a demanda do Distrito representaria apenas 1% do total de passageiros da linha, o que não justificaria, segundo ele, os investimentos necessários para a extensão dos trilhos. As declarações foram dadas na última quinta-feira, durante vistoria em obras das estações de Suzano e Ferraz de Vasconcelos, e provocaram reações imediatas de lideranças locais.
Conforme matéria publicada ontem por O Diário, líderes comunitários, vereadores e deputados da Região devem se unir em torno da causa para solicitar uma audiência com Jurandir Fernandes. A intenção do grupo é contra-argumentar o posicionamento apresentado pelo secretário. Eles querem provar que César tem um potencial de crescimento importante e convencer Fernandes a realizar um estudo de demanda amplo, que leve em conta também as projeções futuras de densidade demográfica para a área. Especialistas consultados pela reportagem fazem considerações a respeito de uma série de dados técnicos que poderão ser apresentados a Fernandes para justificar a manutenção dos estudos sobre a expansão da Linha 11- Coral.
Um dos argumentos mais fortes é o último levantamento do Censo 2010, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cujo resultado pode ser considerado um demonstrativo claro do potencial de crescimento populacional da porção Leste da Cidade. De acordo com a pesquisa, César de Souza foi a região que mais cresceu em guia de Mogi das Cruzes na última década. O levantamento apontou que no ano 2000 havia 22.450 pessoas vivendo na região. Em 2010, o número de habitantes chegou a expressivos 33.295, em um aumento de 48% em dez anos.
O professor Elias Martins Pereira, que é diretor do Ipemp, instituto especializado em informação e interpretação de dados e em pesquisas sócio-econômicas e de opinião pública, analisa o resultado. Ele afirma que, no geral, o último Censo indicou uma estagnação da população brasileira, porém, diz que considera bastante expressivo o crescimento registrado em César de Souza, de uma média de 4,8% ao ano. “Esse número é significativo, especialmente para os padrões de crescimento do restante da população. É claro que esse dado isolado não pode ser utilizado para justificar a ampliação do transporte ferroviário. Porém, é preciso lembrar que se há aumento de população, consequentemente também haverá maior demanda de transporte público e isso deve ser levado em conta”.
A tendência de crescimento populacional de César também pode ser claramente observada a partir da análise do comportamento do mercado imobiliário na região. Uma pesquisa inédita, divulgada no fim de julho último, indicou que os terrenos do distrito tiveram valorização superior a 350% em cinco anos. O levantamento foi elaborado pela empresa Geoimovel Tecnologia e Informação Imobiliária, e comprova as perspectivas do Plano Diretor do Município, que indicam o Distrito como principal vetor de crescimento urbano de Mogi das Cruzes nas próximas décadas.
Responsável pela coordenação da pesquisa, o engenheiro Marcelo Molari afirma que a tendência é de um desenvolvimento imobiliário ainda maior nos próximos anos. Ele lembra que apenas o loteamento “Plano Urbanístico da Reserva da Serra de Itapety”, que ficará localizado na área conhecida como Fazenda Rodeio, representará um grande crescimento para a região. “Esse empreendimento tem projeção de mercado para os próximos 50 anos. Isso sem contar todos os outros que estão em andamento e os que ainda virão. Não tenho dúvidas de que Mogi vai continuar crescendo em direção a César de Souza”.
O presidente da Associação dos Moradores do Jardim São Pedro e Região, Adalberto Andrade, ainda destaca que o Estado não deve levar em conta apenas as questões orçamentárias para definição das prioridades das políticas públicas. “O secretário Jurandir Fernandes afirmou que a demanda não justifica o investimento. Porém, esse argumento não pode ser utilizado pelo Governo, já que a CPTM não poder ser vista como uma empresa privada, que visa apenas ao lucro. Ele deve se lembrar de que legalmente, de acordo com o que prevê a Constituição Federal, o transporte público é um direito de todos os cidadãos e um dever do Estado”, diz.
Em suas últimas declarações, Jurandir Fernandes ainda voltou a afirmar que o compartilhamento da linha, que é de concessão federal a partir da Estação Estudantes, seria mais um entrave para extensão dos trens até César. Porém, em reportagens publicadas recentemente por O Diário, o gerente de Transporte Ferroviário de Cargas da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Marcus Expedito Felipe de Almeida, e o gerente geral de Concessão e Arrendamento da MRS, Sérgio Carrato, declararam que as empresas concordam em conceder a autorização de passagem dos trens de passageiros na linha federal. Ambos destacaram, inclusive, que já há casos em que a CPTM compartilha as linhas destinadas ao transporte de cargas, como no caso das composições que passam por Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.
Para o presidente da Comissão de Transportes da Câmara de Mogi, vereador Expedito Ubiratan Tobias (PR), que também é uma das lideranças do movimento “Trem Até César Já”, os entendimentos entre Estado e União para compartilhamento da linha não podem ser considerados um entrave para expansão da Linha-11 Coral. “Eu tenho acompanhado o assunto de perto e as reportagens publicadas pelo jornal deixam claro que não haverá problemas nesse sentido. Esse argumento não pode ser usado para inviabilizar o projeto. Quem perde com isso é a população”.
Audiência
Na próxima semana, Tobias deverá promover uma audiência pública na Câmara para discutir com a população o projeto dos trens até César. O evento será no dia 18 e deverá contar com a presença de representantes da CPTM.
Fonte: O Diário