Faltam vagas nas creches de Mogi das Cruzes
terça-feira, 31 de julho de 2012“Chego a perder os bicos que consigo porque não tenho com quem deixar a minha filha durante o dia”. Este é o depoimento da diarista Renata de Souza, 26 anos, moradora do São João, que busca desde o ano passado uma vaga para a filha Laisla Letícia, 3, em uma creche de Mogi das Cruzes. Já a auxiliar Karen Ramos, 23, precisa recorrer à ajuda do pai, que trabalha à noite e dorme poucas horas por dia, para deixar a pequena Nicolly, de 2.
De acordo com levantamento feito pela Secretaria Municipal de Educação, 9.447 crianças são atendidas nas 82 creches ligadas à Prefeitura, sendo 13 da Administração, cinco escolas de ensino infantil e outras 64 conveniadas. O Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), traz números um pouco diferentes. Os dados do estudo demográfico apontam que o Município tinha, à época, 9.799 crianças em unidades educacionais infantis.
A diferença se deve, sobretudo a dois fatores. O primeiro é que o levantamento da Prefeitura foi feito em 2012 e o do IBGE se refere a 2009, tendo como base o ano seguinte. O segundo é o envelhecimento das crianças que ultrapassam os cinco anos de idade e já saem do universo observado pelos dois indicadores. “Os agentes seguem o padrão e perguntam às famílias quantas crianças daquele domicílio frequentam creches ou escolas infantis. Isso ajuda a identificar o universo, que conta com o serviço e a parte que não tem”, ressalta o chefe interino da agência mogiana do IBGE, Paulo César de Souza. Ao todo 695 crianças aguardam vaga pelo Cadastro Unificado Municipal, elaborado pela Pasta para direcionamento dos pequenos às unidades.
Para ter um filho matriculado em creche, a mãe precisa comprovar que trabalha. Este é o maior entrave para Renata. “Na maior parte das vezes, consigo deixá-la na casa da minha mãe e ir trabalhar. Mas tem dias em que não há jeito. Não tenho com quem deixar a Laisla e acabo não fazendo a diária para ficar com ela”, comentou.
O que a deixa mais triste é que bem perto de sua casa, na Rua Antônio Cordeiro, funciona a creche Sant’Ana, que atende 287 crianças do berçário aos 5 anos. “Tenho uma cunhada que conseguiu colocar a filha dela lá. Há um ano tento matricular a Laisla, converso com funcionários e eles me dizem que é só se inscrever no cadastro e estar trabalhando. Mas como posso procurar emprego se não tenho com quem deixar minha filha?”, indagou.
Karen, por sua vez, até tem trabalho, mas ela diz não achar vagas na creche perto de sua casa, no Jardim Nove de Julho. “Sempre que vou procurar vaga dizem que ainda não tem, que precisa pôr o nome no Cadastro, mas até agora não consegui. Para que uma menina de 2 anos não fique sozinha em casa, a deixo com meu pai, que trabalha de porteiro durante a madrugada e tem uma parte do dia para tentar descansar. No restante, ele fica cuidando dela”, comentou.
A jovem explica que sua realidade é parecida com a de outras mães do Bairro. “Aqui há muita gente que trabalha, não tem com quem deixar filho e precisa com urgência de creche. A Prefeitura tem que olhar com atenção para este problema porque prejudica a família e a criança, que não conta com o serviço que é seu direito”, opinou.
Aumento de creches
Para a secretária municipal de Educação, Maria Geny Borges Ávila Horle, o aumento no número de creches resultou em índices positivos para a Cidade. “O relatório de obras prevê 40 novas creches, 35 já entregues. Em 2011, tínhamos 94,30% das crianças na pré-escola, com 4 e 5 anos, atendidas na Cidade, o que significa que estamos perto de universalizar esta faixa etária. Quanto às da creche, como já tínhamos 40,63% de atendimento, deveremos chegar aos 50% bem antes de 2020, como estipula o Plano Nacional de Educação”, explica.
Questionada sobre a necessidade de exigir que a mãe trabalhe para que a criança possa frequentar uma unidade, a chefe da Pasta comentou que “o Cadastro é uma lista única de espera da Cidade e prioriza o atendimento às mães trabalhadoras, famílias de menor renda per capita e crianças em situação de vulnerabilidade ou risco social. Considerando que em muitos bairros ainda não conseguimos universalizar a oferta de vagas para a faixa de 0 a 3 anos, estes são critérios de atendimento às crianças e às famílias que mais precisam de vagas em escolas públicas por não terem condições de pagar uma particular”, apontou.
Para algumas entidades de setores com forte presença de mão de obra feminina, a maior oferta de unidades de educação infantil ajuda na renda e economia. “A abertura de novas creches reflete diretamente no setor econômico de uma cidade. Costumo usar uma estimativa de que, para cada criança que entra numa creche, são R$ 300,00 que podem ser injetados na economia local. Este valor é o que as mães pagam, em média, para que alguém cuide dos seus filhos ou, então, para alguma instituição particular que ofereça este serviço. À medida em que há a possibilidade de colocar o filho numa unidade pública, sem qualquer custo, estes R$ 300,00 ficam disponíveis para serem usados em outras finalidades e o comércio, direta e indiretamente, absorve isso. Não podemos esquecer, ainda, que com a ampliação de creches, mães que hoje não trabalham porque não têm com quem deixar os filhos, ganham oportunidades de conseguir emprego”, destacou Tânia Fukusen, presidente da Associação Comercial de Mogi das Cruzes (ACMC).
“A ampliação do sistema de creches gera benefícios na sociedade como um todo e não só no setor industrial. Mas não resta dúvidas de que a maior oferta de vagas nas creches aumenta a empregabilidade das mulheres no mercado de trabalho. A partir do momento que dispõem de um lugar para cuidar dos filhos, com segurança e qualidade, as mães que até então tinham que ficar em casa podem trabalhar fora. E a indústria é um setor que absorve grande parte desta mão de obra, visto que figura como a segunda maior empregadora”, analisou Werner Ludwig Stripecke, diretor do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) Alto Tietê.
Veja as respostas dos candidatos a Prefeitura de Mogi:
Edgar Passos
Em busca de sua primeira gestão na Prefeitura, Edgar Passos (PSTU ) pretende trazer à tona a questão do financiamento público na educação em Mogi das Cruzes. “A Prefeitura atende hoje pouco menos de 10 mil crianças em suas creches e escolas de ensino infantil. O grande problema na atualidade é a questão do financiamento público da educação. Criam-se convênios com entidades que passam a gerenciar a unidade, mas isso não garante um padrão de qualidade no ensino. O próprio Município deve se responsabilizar pelas creches. Este problema com a educação, delegando a responsabilidade a entidades conveniadas, porém, não acontece só em Mogi das Cruzes”, ressaltou. Segundo ele, é preciso mudar a gestão atual. “Criar um critério pedagógico que envolva as três partes governamentais. A partir daí pode-se projetar mudanças mais profundas. Desta forma, dando atenção à educação de base, poderá se mudar a situação da falta de vagas em creches municipais”, salientou o representante do PSTU .
Fernando Muniz
Se eleito, Fernando Muniz (PPS) diz que construirá mais creches para atender a demanda de crianças que ainda não têm vagas garantidas na rede municipal. “É preciso construir novas unidades ou adotar algumas já existentes para comportar mais alunos. Fazer convênios é uma alternativa em questão porque poderá viabilizar o aumento de oferta de vagas, principalmente em bairros mais distantes que, na atualidade, tem poucas unidades. Muitas mães recorrem a creches afastadas de suas casas para não deixar os filhos sozinhos”, destacou. Além disso, o representante do PPS acredita na discussão do orçamento participativo como forma de tentar resolver a questão do déficit de vagas. “Vamos discutir o orçamento participativo. A Prefeitura tem de entender a seriedade deste assunto que envolve outras áreas de interesse público, inclusive, a educação. É possibilitar que o público ajude nas decisões importantes, sobretudo nesta de destinação orçamentária”, comentou.
Jorge Paz
O candidato à Prefeitura mogiana pelo PSOL , o professor Jorge Paz, aponta que o Município não tem priorizado muito a ampliação no número de creches, o que prejudica o desenvolvimento educacional em Mogi. “O Município deveria dar prioridade às creches. Hoje vivemos uma realidade em que a Prefeitura, o Estado e o Governo Federal pouco se responsabilizam por este setor. O que falta é a criação de um projeto pedagógico muito bem alicerçado. Com este projeto, vai ser possível expandir o alcance destas unidades educacionais, objetivando o público de 0 a 5 anos”, explicou. A ideia, segundo o candidato, além da construção de novas unidades é padronizar o conceito educacional, tornando a creche um ambiente acessível, sobretudo para as mães que até hoje não conseguem vaga para os filhos, e pedagogicamente completo. Para Paz, outro tema que precisa ser discutido é a contratação de funcionários para as unidades. “Todos devem ser concursados para que possam exercer função lá dentro”, complementou.
Marco Bertaiolli
Candidato à reeleição pelo PSD , o prefeito Marco Aurélio Bertaiolli afirma que até aqui tem cumprido um de seus principais compromissos na área de educação. “Estamos entregando 40 novas creches. No total, elas devem gerar 5,5 mil vagas”, disse. De acordo com ele, o objetivo, caso seja novamente escolhido pela maior parte dos eleitores mogianos, é construir mais 25 creches no Município. “Para o próximo mandato, nosso compromisso é regularizar a demanda de vagas por creches. Vamos construir pelo menos mais 25 unidades em bairros como Jundiapeba, Jardim Margarida, Parque Olímpico, Jardim Santos Dumont, Santo Ângelo, Vila Nova Aparecida, Jardim Maricá, Chácaras Guanabara, Jardim Aracy e Parque Morumbi”, acrescentou.
Das mais de duas dezenas de creches planejadas pelo candidato, 15 devem contar com convênios firmados em parceria com o Governo Federal, uma por meio do Governo do Estado e outras nove que serão erguidas pela Prefeitura de Mogi das Cruzes.
Marco Soares
O advogado Marco Soares (PT) defende a criação de cadastros locais para as mães que precisam colocar seus filhos nas creches da Prefeitura. “Precisamos zerar o déficit aumentando o número de creches e permitindo que na própria comunidade onde ela esteja inserida tenha autonomia de constituir um cadastro para ocupar as vagas que faltam, especialmente atendendo àquela população. Então, entendemos que, além de mais creches, precisamos instituir os cadastros locais”, sugeriu. O petista disse, ainda, que pretende contar com o apoio do Governo Federal para solucionar este problema em Mogi, caso sela eleito no pleito de 7 de outubro. “Os programas do Governo Federal, inclusive este último (chamado de “Brasil Carinhoso”), já prevê a construção de novas creches em parcerias com as prefeituras. Poderemos contar com esta ajuda”. Em relação aos convênios, Soares tem opinião formada. “O poder público não pode transmitir a responsabilidade integral às associações conveniadas”, concluiu.
Mário Berti
Em mais uma disputa à Prefeitura, Mário Berti (PCB) aponta que todas as crianças têm direito às creches, mesmo aquelas cujas mães não trabalham. “Não pode faltar creche para nenhuma criança em Mogi das Cruzes. Isso se a mãe estiver trabalhando ou não. As creches deveriam atender a todas as mães que recorrem a elas”, afirmou. O candidato destaca, ainda, que a Administração Municipal deveria ajudar os pais que precisam utilizar transporte público a levar os pequenos às creches. “Acredito que a Prefeitura deveria bancar um auxílio de custo às mães que precisam utilizar ônibus para levar as crianças à uma unidade longe de casa”, opinou.
Crítico do modelo atual de gestão por meio de convênios, Berti defende rigor na fiscalização das entidades que administram as unidades. “A Prefeitura de Mogi das Cruzes precisa intensificar a fiscalização em cima das entidades que ficam responsáveis por gerenciar as creches no Município. Fiscalização financeira e até sanitária para observar o estado dos imóveis onde as crianças ficam”, conclui.
Fonte: O Diário de Mogi